terça-feira, 15 de novembro de 2011

Religião: lugar de preconceito, de intolerância, de desrespeito...

Por mais que eu tente parece ser inevitável sentir-me indignado com as pequenas manifestações de estupidez, senão de arrogância de fato, diante de certas palavras e atitudes da gentinha de mente apequenada que adora estar por trás do "manto sagrado da religião". Pessoinhas que se julgam mais sábias que os outros, que se julgam superioras, melhores, providas de um senso crítico elevado e de um poder de observação pleno, correto e que não se misturam à água por acreditarem ser o vinho. Enfim, aquelas pessoinhas que se dizem donas da verdade última mas que, no entanto, são extremamente incapazes de descer desse pedestal para assumir um simples errinho de relacionamento com o outro. Acho no mínimo irônico um padre ou um pastor se arvorarem o máximo da alma humana e se julgarem tão superiores ao ponto de sequer dar o ar da graça em eventos "profanos", em eventos que não estejam ligados diretamente às suas respectivas igrejas, e, ainda por cima, acharem-se no direito de caçoar ou de desfazer dos eventos que não fazem parte do calendário de suas igrejas. Eles não precisam disso! Já estão plenos! Cheios de si!

Pois bem, vamos ao episódio que me inspirou: evento sobre problemas ligados às famílias nos dias de hoje e uma árdua labuta de uma companheira preocupada em divulgar ao máximo de pessoas possíveis, principalmente as pessoas que possuem certo destaque na sociedade, entre elas, um renomado e problemático padre bem como um pastor dessas igrejinhas de subúrbio ávido por congregar mais fiéis às suas fileiras (pelo menos antes do fato ocorrido).

Convites distribuídos e finalmente chega o dia do evento. Como de costume em qualquer evento desse porte, por mais que se encaminhe centenas de convites, nem todo mundo pode comparecer. Minha nobre colega de faina, então, ao se encontrar com aqueles aos quais lhes foram entregues os convites pessoalmente, na mais inocente intensão, acha de perguntar aos respectivos convidados o porquê de não terem comparecido, e, também como de costume, a maioria justifica sua ausência e se desculpa demonstrando assim uma preocupação em manter o relacionamento e o respeito para com o outro. Entretanto, não foi o que aconteceu aos grandes representantes religiosos.

Eis que os senhores da verdade, plenos de si, além de não terem comparecido, ainda por cima demonstram um enorme desdém e tentam até desprestigiar o referido evento por não se tratar - imagino - de temas ligados à religião... Espere... E desde quando a religião não envolve seus tentáculos em temas tão comuns do nosso cotidiano, importantes à nossa sociedade, como o tema da família? Principalmente hoje em dia que existem padres que até comentam sobre o uso de preservativo?! Como assim o tema não estar relacionado com religião? Confesso que, diante da minha pequenez intelectual, seria extremamente infrutífera minha tentativa de compreender...

O pastor ainda conseguiu proferir palavras sinalizando sua enorme sapiência no assunto: "já viu vinho misturar-se à água?", alegando, este senhor da verdade, que os temas seriam tão díspares quanto. E o grande padre de sapiência tamanha comparada apenas ao infinito? "Desses assuntos já estou calejado de ouvir e sei que não se resolve nada, pois não passa de blá-blá-blá!", de certa forma, não seria o que realmente acontece dentro das igrejas também já que não vemos nada efetivamente prático ou eficaz realizado pelos sermões muitas vezes eivados de politicagem deste também senhor da sapiência? Pior de tudo é imaginar que esses indivíduos se autoproclamam "religiosos"... Estou com medo.

Meu medo surge a partir do momento que percebo nestes senhores que eles não reconhecem ou não admitem que deveriam dar o exemplo já que, infelizmente, tratam-se de pessoas de destaque na comunidade. Se ouvisse de um político profissional talvez não me assustasse tanto, mas de um padre ou de um pastor, representantes de Deus aqui na Terra?! Se no dia-a-dia esses senhores possuem essa postura para com os pequenos, para com os eventos mundanos, profanos, que será que eles andam dizendo em suas igrejas? Pior que, também infelizmente, tem gente que leva isso a sério e passa a propagar esse tipo de comportamento soberbo que logo-logo descamba para intolerância, para o desrespeito ou para o preconceito porque coisa ruim se espalha fácil, já coisa boa...

Pois é, meus amigos e amigas deste blog-desabafo, convivendo neste mundinho, pareço nunca me acostumar aos comentários infelizes dessas mentes brilhantes que povoam esta cidadela. Quanto mais convivo, mais percebo que sou diferente, estranho, apequenado, sobretudo por assumir publicamente que não pertenço e muito menos frequento as muitas religiões que por aqui se espalham que nem uma praga. Minha afirmação para encerrar este monólogo é esta: se religião fosse realmente o lugar da verdade última, não existiriam tantas pelo mundo afora. Vamos em paz e que o senhor nos acompanhe...

6 comentários:

  1. Caro colega Vicente, peço-lhe licença para dizer-lhe que Weber está de acordo com Marx ao dizer que a religião cumpre uma função de conservação da ordem social, na "legitimação" do poder dos "dominantes" e para a "domesticação dos dominados". Podemos afirmar que a experiência religiosa pode e deve se dar fora da própria Instituição. A vivência religiosa por meio de uma instituição pode causar alienação e até mesmo opressão.

    Um cordial abraço, João Everton

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  2. estimado João Everton,

    Concordo com você plenamente! Acredito que cada ser humano pode e deve ser o único responsável pela sua empreitada religiosa, sem que necessariamente necessite de intermediários com o divino, aliás, eis o grande ponto nevrálgico dos malefícios que a religião pode trazer, essa suposta necessidade de se criar "homens especiais" que poderiam ter uma proximidade maior co Deus...

    No mais, agradeço pelo seu post! Um abraço!!

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  3. A religião em si é uma escolha, e toda escolha pressupõe uma renúncia. Escolha essa que não é tão tolerável quanto á renúncia da própria religião..
    Belo post, ótimo blog.
    Abraços.

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  4. Caro Vaz, obrigado pelo comentário! É verdade. Religião tem a ver de fato co escolha, acredito ainda que cada um pode manter uma religião dentro de si mesmo, uma religião autônoma e que, sobretudo, não necessite institucionalizar-se, porque senão cairia em seu oposto.

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  5. Gostei da palavra, instituicionalizar, isso mostra que religião = politica.
    Pode até se perguntar o porquê desse comentário. Digo-lhe os povos politeístas nunca precisaram INSTITUCIONALIZAR nenhum ritual ou algo parecido!
    Outro motivo que me faz acreditar que a religião seja igual a politica é, utilizar de um livro para manter as pessoas ou fiéis em ordem, a politica usa a constituição as religiões usam seus livros "sagrados" e "verdadeiros"! Muitas vezes até passando dos limites e obrigando que seus fiéis paguem "impostos" ou dizimos!

    Otimo post!

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    1. Obrigado, meu caro Luan! Com certeza política e religião possuem um envolvimento muito próximo - a Igreja Católica que o diga, pois, durante seu domínio durante a chamada Idade Média no qual até para escrever alguma ideia tinha que passar pelo crivo da Igreja, religião e política eram palavras de mesmo sinônimo...

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