sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Será que professores sabem o que quer dizer laicidade?

Todos que acompanham este blog sabem de minha dileção pela crítica religiosa sobretudo direcionada à religião cristã. Muitas vezes ouço ou recebo mensagens de pessoas que procuram me taxar como “ateu”, “herege” ou até “endemoninhado” graças às minhas palavras nada agradáveis quando comento sobre o cristianismo – e aqui, mais uma vez, refiro-me a todas às religiões que veem na figura de Jesus Cristo seu principal representante. Por isso, aqui na minha cidade, recuso-me a participar de todos os eventos que de uma maneira ou de outra percebo o envolvimento de alguma igreja, sobretudo a católica.

Minha desilusão religiosa, como não poderia deixar de ser, foi colossal, mas ela me incentivou de algum modo a buscar mais as argumentações a respeito dessa coisa chamada religião que eu acreditava cegamente entender. Talvez, na realidade, eu já carregava comigo de forma incipiente uma certa descrença, mas sempre procurava deixá-la de lado, escondê-la, ou por medo ou por precaução. Mais tarde, já na metade do curso de filosofia, é que procurei de fato mergulhar nesse tema da crítica religiosa através de dois filósofos emblemáticos na crítica à religião: Feuerbach e Nietzsche, em suas respectivas obras, fundamentais para mim, A Essência do Cristianismo e O Anticristo. Agora sim despertava de meu "sono dogmático"!
Ludwig Andreas Feuerbach.
 Quando crente e temente a Deus, buscava ler conteúdos de diversas perspectivas para acertar numa compreensão mais detalhada sobre aquilo que me angustiava. Nunca havia lido Darwin por medo de perder a pouca fé que me restava, mas sempre o respeitava, nunca o criticava ou o desmerecia, até porque não conhecia sua obra ou suas ideias por completo. Vez por outra me deparava com alguém que dizia que Darwin ou até Nietzsche eram "pessoas sem Deus no coração", mas não entendia muito bem o porquê desse tipo de afirmação. A religião também não ajudava muito a esclarecer, o que me forçou a trilhar um caminho solitário...

Essa trilha solitária a qual escolhi me levou a cursar filosofia e aí sim descobri o caminho que a religião jamais iria me mostrar. Formei-me professor e percebi o quanto de embebido e consequentemente cego pela religião estava. Os filósofos citados acima e mais alguns retiraram todo o véu que anteriormente encobria minha visão, e realmente, nesse momento, podia enxergar com bastante clareza a realidade da religião e a realidade que ela procurava esconder de mim. Sempre quando me lembro desse momento marcante, recordo-me em seguida da cena crucial do filme Matrix quando Neo desperta do casulo e enxerga a realidade que ele desconhecia.

Cena do filme Matrix.

Por isso me sinto angustiado além de revoltado quando me deparo com alguém, com pessoas ligadas ao meu círculo de convivência – não que eu tenha escolhido – que dizem “ser absurdo como alguém pode deixar de acreditar na evidência da criação do mundo por Deus”; ou ainda, “como alguém pode acreditar naquela teoria imbecil de que o homem deriva do macaco”. Isto sem comentar que essa mesma pessoa diz ter encontrado todas “as evidências” num livro obscuro, de, não duplo, mas vários sentidos para não dizer completamente contraditório chamado Bíblia. Será que Darwin estaria brincando só para sacanear com as pessoas?

A ciência recentemente levou a “crença darwiniana” à lugar de verdade científica quando, depois da descoberta da genética, afirmou ter agora sim evidências da semelhança entre um chimpanzé e um ser humano – pelo menos fisicamente. E esse tipo de pessoa acha que é um crime comparar alguém, um ser humano, esse “ser especial”, a um animal, esquecendo-se ela que nós só nos diferenciamos dos animais pela razão – se bem que nem essa argumentação de que a razão é inerente a todo ser humano eu esteja ainda de todo convencido.
Charles Darwin
Detalhe agora para o que mais me dá medo como também absurdo nesse tipo de pessoa: ela é uma educadora profissional! É alguém que cursou uma faculdade! Alguém que se diz professora graduada, que diz ter lido textos de cunho científico, mas que ainda assim acredita ser “mais fácil” entender a “certeza absoluta” da Bíblia do que A Origem das Espécies de Darwin. Pior ainda é saber que esta criatura dotada de razão é uma professora e que transmite aos seus pobres alunos que "Deus nos fez especiais", que "criou todos nós", e sequer cita alguma passagem ou algum comentário, pelo menos, sobre a teoria da evolução darwiniana e assim mostrar outra possibilidade de explicação da realidade aos seus pobres alunos! Bastava dizer: eu acredito na explicação dada pela Bíblia, o criacionismo, mas existe uma explicação científica, o evolucionismo, na qual afirma que possuímos um parentesco com os símios.

Esse tipo de profissional esquece que escola, em sua base conceitual, é o ambiente onde se proporciona instrução, experiência ou vivência, no caso brasileiro, de cunho científico, e que o doutrinamento - ou catecismo - que ela está sujeitando seus pobres alunos se faz em igrejas, não mais em escolas! Que mostrasse sua opção ideológica, mas mostrasse também o outro lado, aquilo que ela nega, aquilo que seus pobres alunos não sabem, mas que possuem o direito "divino" de também conhecer.

2 comentários:

  1. Outro grande absurdo é a manutenção da disciplina "Ensino Religioso" e a forma como é ministrada, ou seja, um catecismo, predominantemente católico, num país que se define por sua pluralidade. Não posso deixar de pensar que tal absurdo tem uma lógica, um objetivo bem específico de doutrinar o rebanho brasileiro segundo uma mesma moral, através de que seria melhor definido o controle das massas, segundo um ordenamento moral comum e muito oportuno os senhores da lei. Que outra justificativa pode haver para o estupro cultural a que são submetidas as crianças em idade escolar?

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    1. Pois é, caro Ylguém, pior que já tentei inúmeras vezes levantar, pelo menos, uma discussão aqui na escola onde ensino para trocar essa disciplina por uma mais atual como leis de trânsito ou até, quem sabe, educação sexual, mas existe uma resistência muito grande dos próprios colegas bem como da própria Secretaria de Educação. Só para vc ter uma ideia, Ensino Religioso faz parte da estrutura elementar da base curricular do estado de Sergipe, ou seja, não se pode retirar ou pelo menos adaptar. Diante disso, sugeri junto a alguns colegas que ministraram ou ministram a disciplina que se criasse um referencial curricular baseado nas muitas religiões no qual o foco seria a história das principais religiões brasileiras.

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