sexta-feira, 28 de abril de 2017

UMA EXPLICAÇÃO SOBRE FILOSOFIA

É no mínimo curioso como nesse tempo todo eu não tenha falado de um tema que está subentendido em todas as postagens deste pretenso blogue de filosofia: falar da própria filosofia. Tentar mostrar ao menos um caminho que possa nos indicar uma compreensão acerca deste saber muitas vezes mal compreendido assim como marginalizado.

Como se sabe em qualquer aula de introdução à filosofia, ela surgiu na Grécia e, embora alguns estudiosos prefiram crer que sua maternidade estaria com os orientais, prefiro concordar que foram os ocidentais, especificamente os gregos, responsáveis por criar essa forma tão única de compreensão da realidade como da condição humana.

Graças à razão, essa forma completamente inovadora de se enxergar a realidade, de se pensar, que a filosofia conseguiu sua emancipação na forma como a conhecemos. Tales, o primeiro indivíduo a fazer filosofia, a se valer da razão para pensar o mundo, no caso, a busca pelo princípio primordial, o que em grego denominou-se arché, é então considerado um filósofo embora não tivesse cunhado o termo "filósofo", esse amante ou buscante do saber, da sabedoria.

Mas o que efetivamente esse indivíduo realizou de tão inovador? O que é, enfim, essa coisa chamada filosofia?

Tales "simplesmente" pensou diferente. Não quis mais se valer das explicações oriundas do mito. Não que o mito seja sinônimo de mentira ou fábula. O mito não passa de uma explicação simples, sem muito rigor, baseada em crenças ou bastante influenciado por um caráter religioso. Com a razão não é assim. A explicação racional exige apenas o ser humano como referência; dá-lhe uma certa autonomia nas explicações das coisas; e exige um certo rigor lógico ou ainda metodológico.


Decerto que os pré-socráticos não foram exemplos desse dito rigor metodológico, sobretudo na forma como imaginamos hoje, mas o que eles falaram, mesmo que em algumas situações através de poemas ou fragmentos aparentemente sem nexo, havia um sentido ali presente; e se havia um sentido, havia de algum modo um elemento racional. Como na citação de Heráclito de Éfeso a guerra é mãe e rainha de todas as coisas”. À primeira vista parece ser uma simples frase, solta, que faz algum alusão à defesa da guerra. Contudo, essa "guerra" que ele se refere estaria relacionada ao devir, à ideia de movimento, dos contrários, princípio este que originou o cosmo. Note que em sua frase não há uma menção a algum tipo de explicação mitológica, à crença. Há sim uma tentativa de explicação da realidade alicerçada na capacidade exclusivamente humana. Eis então uma explicação racionalizada. Eis a filosofia ocidental mostrando uma identidade própria, única, exclusiva entre os gregos e que teria chegado até nós.

Nesse sentido, a filosofia, reitero, é uma explicação racionalizada sobre temas ligados ao mundo e ao próprio ser humano. Ela busca a reflexão. Aliás, o sinônimo de filosofia seria justamente reflexão, indagação, questionamento. Algo que é inerente ao pensar racional e que os ocidentais teriam iniciado.

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