O ser humano é um ser que vive em constante conflito. É personagem de uma guerra que ele próprio sustenta e que, em alguns casos, ele mesmo sabe como pará-la – eis então a grande problemática proposta por Sócrates do "conhece-te a ti mesmo". O ser humano ocidental retém em seu cerne fortíssimas influências judaico-cristãs e por isso é recipiente de uma dualidade de mundos: a sua realidade que lhe impõe os percalços da vida, mas que o coloca na expectativa de outra vida. O ser humano vive na Terra, porém com a expectativa de encontrar o Paraíso (um lugar perfeito). Pelo fato de o ser humano não se identificar com este mundo, ele então põe todas as suas esperanças em outro mundo. Mas, por que então ele não se identifica ou não se vê realizado, satisfeito neste mundo do qual ele faz parte? Eis o princípio da insatisfação, do sentimento de infelicidade dado ao fato de que o homem jamais se pretende completamente satisfeito com qualquer coisa com a qual ele consiga realizar. É justamente graças a este conflito, este sentimento de nunca estar satisfeito, que se notam as principais atribulações na vida de qualquer pessoa transformando-a, com isso, em alguém infeliz não em relação ao mundo do qual faz parte, mas em relação a si mesmo. O ser humano, por ser infeliz consigo mesmo, passa a transformar as coisas que toca em coisas também infelizes, transforma o mundo a sua volta em algo infeliz – talvez por causa disso as muitas vicissitudes que estão aí pelo mundo, já que o ser humano não consegue satisfazer-se com o que tem em mãos. É claro que algum "otimista" irá bradar o oposto ao se deparar com alguém que lhe demonstre tais argumentações, entretanto, embora ele tente comprovar que exista felicidade, mesmo que ligeira, não pode deixar de concordar que essa "felicidade ligeira" não passa na realidade de pura ilusão, de uma desdenhosa miragem que o engana e, pior ainda, que o vicia a buscar desde sempre esse "tipo" de fortuna. Transforma-o em um ser perseguidor da "coisa alegre" que, ao ter provado uma vez e assim gostado, deseja mais e mais se viciando. Em sua perseguição desenfreada pela bendita felicidade, termina esquecendo ou finge esquecer-se das atrocidades que realiza nessa sua busca. Ele quer porque quer a qualquer custo possuí-la e está disposto a pagar qualquer preço – inclusive a sua própria felicidade... Mas, afinal de contas, o que é felicidade mesmo?
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
Ser humano, ser buscante da felicidade
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