quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Um entendimento sobre a corrupção

Corrupção, segundo o dicionário Larousse, "ato ou efeito de corromper, decomposição, depravação", ou ainda, "ação de seduzir ou seduzir-se por dinheiro, presentes, etc., levando alguém a afastar-se da retidão". À primeira vista, este conceito da palavra nos soa um tanto estranho tendo em vista que muitas vezes vemos o termo corrupção associado a políticos, a pessoas que foram eleitas para serem nossas representantes no nosso tipo de governo. Todavia, o que muitos não sabem é que esse termo, esse "desvio moral", está tão presente em nosso cotidiano, diria até em nossa própria história enquanto civilização, que não nos damos conta. A corrupção não está apenas no parlamentar que aceita algum agrado ("propina", na linguagem politiqueira) de alguém em troca de algum benefício, por exemplo; ela pode estar na nossa simples relação com alguém que nos poderia oferecer algum tipo de serviço ou "vantagem", como quando conhecemos algum caixa bancário que por amizade nos atende na frente de outras pessoas que estavam na fila antes de chegarmos. Óbvio que o "tamanho" da corrupção, se é que podemos chamar assim, em comparação com a do parlamentar é ínfima contudo não deixa de ser uma forma de afastar o funcionário bancário de sua retidão, de sua "ética no trabalho", que no caso seria atender as pessoas por ordem de chegada na fila, portanto, um pequeno ato corrupto que realizamos talvez inocentemente. Mas por que isso acontece? Por que o ser humano sempre permitiu que suas relações fossem maculadas por isso que é claramente um desrespeito à própria humanidade? Por que, em suma, existe a corrupção?

Muitos pensadores, teóricos ou filósofos tentam nos dar uma resposta. E isso não é de agora, pois, como havia dito anteriormente, a corrupção está em nosso meio desde que o ser humano sentiu a necessidade de se viver em grupo. Lembremo-nos da filosofia socrática que detinha como meta o entendimento da verdadeira virtude, da retidão de ações, não aquela virtude superficial ou de aparência pela qual os atenienses da época de Sócrates propagavam e que por sinal o levaria à morte, mas aquela que é tão evidente como a luz do Sol presente na Alegoria da Caverna em Platão, seu discípulo. Essa virtude que nos serve como norteadora e que traga, não para poucos, mas para todos, o real sentimento de humanidade, algo que seja uma ligação com toda a espécie e em benefício dela. Era isto a proposta da democracia grega, afinal, o próprio termo democracia já denota isso: "governo de todos". E o que Sócrates percebeu já em sua época naquele século V a.C.? Que esse governo de todos não passaria de mais uma ilusão criada pelos poderosos para se deliciarem com o controle público expropriando justamente aqueles que o viam como detentores de uma suposta virtude política. Sócrates morreu por desmascarar essa falsa virtude e conceituar o que vem a ser ética. Como conseqüência, criou algo que hoje nos serve como princípio de compreensão para nossas ações morais, sejam elas em qualquer âmbito das relações humanas.

Mas o que Sócrates, além da Ética, nos legou? A idéia de que eu, você, nós, eles, a humanidade, todos necessitamos de um princípio que norteie nossas ações em função de um caminho reto para o benefício geral: configura-se assim a tão procurada felicidade. Quando alguém tenta burlar esse caminho, tem-se um ato corrupto. Quando se suborna um guarda de trânsito em privilégio próprio, por exemplo, desrespeita-se não somente as leis, mas o seu semelhante, a humanidade, visto que as leis foram criadas para serem aplicadas a todos – salvo, obviamente, os governos que não aceitam os princípios democráticos. Por isso existem as religiões, os partidos políticos, enfim, as instituições que privilegiam ou tentam privilegiar o ser humano enquanto humanidade e não grupos seletos de interesses egoístas, mesquinhos ou escusos. Todavia, por mais que as religiões ou partidos políticos possuam em seu interior essa idéia de ligação com o todo em função de um caminho único que nos possa levar ao bem maior, existem seres humanos dotados de uma falsa virtude que, historicamente, desde a era dos gregos, por exemplo, não conseguem enxergar o ideal socrático da verdadeira virtude, do caminho que nos leve à verdadeira felicidade, enfim, o caminho que nos leve ao bem maior.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

O problema da Educação em Sergipe - alguns comentários

A vida acadêmica é recheada de qualidades que muitos as julgam como fulcrais para o exercício da profissão escolhida ou até mesmo para o bem conduzir da vida enquanto um "cidadão consciente". O estudante de Direito, por exemplo, é tomado pelos conhecimentos teóricos concernentes à sua área; o de Filosofia é invadido pelos também conhecimentos teóricos pertinentes à sua área; o de História passa a conhecer os conteúdos que deverá tratar e assim por diante. Nesse período de aquisição ou de preparação, qualquer um desses estudantes se vê acometido por inúmeras teorias muito bem elaboradas, muito bem desenvolvidas e que, a priori, permitem certa aproximação de "uma" realidade, ou seja, conhecem-se os conceitos, os fundamentos e, mais tarde, ao concluir seu respectivo curso, ele é tido como preparado e conhecedor desta realidade ensinada. Mas aí, enfim, ele cai na realidade "real", perdoando a redundância. Qualquer um desses estudantes regressa ou ingressa no quotidiano tentando de maneira desesperada aplicar ou adequar o escopo adquirido anteriormente a esta "nova" realidade. Talvez com os cursos cuja finalidade sejam tão somente transmitir um conteúdo técnico não aconteça desta forma, porém, em cursos da área de humanas, principalmente, nota-se um abismo entre essas duas realidades. No curso de Filosofia, por exemplo, o acadêmico atravessa um determinado período de tempo somente adquirindo as incontáveis teorias filosóficas a fim de, ao menos, tentar interpretá-las e pô-las em conformidade com a realidade à qual este estudante está inserido. Ele pode conseguir ou não, vai depender da capacidade que ele manifesta diante da aplicabilidade das tais teorias e de seu poder intelectual ou interpretativo em desenvolvê-las. Mas como ele pode aplicar o que aprendera à sua realidade? Procurando "desesperadamente" uma interpretação pífia sequer de alguma grandiosa obra ou de um bem trabalhado sistema filosófico trazido à luz por um teórico de um lugar muito distante e, na maioria das vezes, de outro período histórico? Como tentar interpretar e trazer à nossa realidade pensadores como Marx se ainda vivenciamos uma Idade Média, se ainda encontramos nos grandes escalões da sociedade indivíduos preocupados em manter uma ordem pautada em uma religiosidade formal e absurdamente pretensiosa? Como podemos nos adaptar ao pensamento de um Nietzsche se ainda encontramos indivíduos que expurgam ou condenam um único corajoso "rebelde" que tenta mostrar que a religião judaico-cristã não passa de mais uma empresa financeira como qualquer outra cujo único produto a ser vendido é a fé? Eis, então, o cerne dos conflitos que podem vir a surgir na mente deste estudante de Filosofia, a depender de sua capacidade interpretativa ou até mesmo de sua personalidade, da sua propensão àquilo que de certa forma violenta seu espírito. Tudo aquilo que ele procurou adquirir ou que lhe disseram para adquirir aparentar-lhe-á, à primeira vista, incompatível e inexeqüível. Como este pobre estudante de Filosofia, no curso de licenciatura, por exemplo, pode chegar a uma sala de aula do ensino médio e falar que "a religião trata as pessoas como se fossem cordeiros para o abate bem como a própria sociedade" se todos seus alunos já foram desde pequenos catequizados e jamais poderiam, segundo seus educadores, lidar com tal opinião? Caberão ao estudante-professor duas saídas: esquecer tudo que aprendera em relação à crítica ou ao menos ao desenvolvimento dela em seus alunos diante da realidade em que compartilham; ou ser de fato um crítico, um provocador ferrenho de tudo e de todos e arcar com as conseqüências de sua bravura podendo ser condenado, no mínimo, como um pária, um marginal ou até mesmo um louco. Entretanto, as disciplinas que não necessitam de certa visão crítica, os cursos meramente técnicos, não sofrem este tipo de problema, pelo contrário, são até muito bem aceitos e difundidos até como mais valiosos que os outros, em especial o de humanas – vale ressaltar que não estou tentando criar uma validade ou uma importância maior a uma determinada área do conhecimento, como a de humanas, estou sim tentando mostrar uma suposta supremacia que a sociedade administrada pós-moderna em Sergipe vem dando aos conhecimentos puramente técnicos, se isto não se aplicar em todo país.


A pretensão de se pôr em prática tudo que aprendera cai por terra e o desesperado estudante vê-se acuado tentando criar adequações estranhas que consigam, ao menos, permitir algumas relações com o conhecimento adquirido em sua vida acadêmica. Isto sem comentar os casos em que muitos destes estudantes das sofridas Humanidades não conseguem sequer perceber essa desconexão porque não tiveram a oportunidade – ou talvez a coragem – de ter acesso a ela. Os Estados, principalmente nas regiões do Norte do Brasil, são guiados por grupos políticos e financeiros, por interesses meramente corporativistas – senão "coronelistas" de fato –, por grupos da aristocracia, da High Society rural que conseguem alternar-se no poder do Estado de acordo com as circunstâncias e necessidades particulares do momento.


Aparenta-nos que qualquer estudante da área de humanas ou não, enquanto cursa, é bombardeado de mais e mais informações passando assim a criar uma espécie de obrigação em reter, em armazenar, em transformar qualquer conteúdo em dado técnico. O estudante-professor se vê praticamente forçado a retransmitir mimeticamente e de uma forma mais sucinta possível o que fora adquirido. Agora ele fará parte, bem como seu aluno, de outro círculo vicioso também pautado em pura aprendizagem mimética.


quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A felicidade existe e está na sua sala


Enquanto uns poucos se vangloriam em seus lares com suas bugigangas eletrônicas, seja no deleite de ouvir alguma música em algum aparelho altamente sofisticado ou no simples ato de redigir alguma coisa em um computador de última geração, com a impressão de que vive em um momento muito mais "feliz" que o seu antepassado que não gozava de tais "felicidades", outros, todavia, não tem sequer conhecimento dessas coisas e estão com a impressão de que a felicidade reside em satisfazer-se com as mínimas necessidades básicas, cito, por exemplo, água e comida. Mais ainda, existem até aqueles que creem que a felicidade está nesses fabulosos e engenhosos objetos transparecendo até que eles são "entidades vivas", "seres superiores" ao próprio homem no sentido de que eles, os ditos objetos, têm mais valor que a própria pessoa. É esta, então, a essencial característica desses tempos pós-modernos: a super valorização das coisas. O ser humano agora passou a ser tratado como mais um mero objeto, alguma coisa sem alma e que só é realmente gente quando possui coisas – de preferência muitas para ser tratado como tal. Talvez isso possa parecer algo um tanto melodramático, piegas, mas não é à-toa quando Marx, lá pelos idos do século XIX, já afirmava que esse dito progresso tecnológico ou até industrial, em verdade não passava de mais uma nova forma de escravizar o ser humano iludindo-o com mais uma promessa de falsa felicidade. Se realmente essas coisas maravilhosas realizassem aquilo que o ser humano tanto espera delas, acredito que inevitavelmente o mundo estaria outro deveras diferente. Claro que na qualidade de filosofante que sou, não posso afirmar com plena certeza que a felicidade pode ou deva ser isto ou aquilo, não obstante, fazendo uma breve alusão a Dionísio, o aeropagita, posso afirmá-la negando-a. Talvez esse imenso desfiladeiro que existe entre o reconhecer o que realmente é a felicidade seja uma marca indelével do caráter, melhor, do espírito humano no qual lhe é inerente. Talvez até a insatisfação de fato esteja amalgamada a nossa condição e nós, insatisfeitos por natureza, não a aceitamos e por isso bradamos em busca daquilo que supostamente nos falta. Seria até, assim penso, mais cômodo para nós crermos que a felicidade não existe, mas sim uma insatisfação e uma busca constante, inerente, daquilo que nos falta. Talvez.

SOBRE A RELAÇÃO ENTRE IDEOLOGIA E LINGUAGEM

https://novaescola.org.br/conteudo/1621/mikhail-bakhtin-o-filosofo-do-dialogo Ao me deparar com uma situação relativamente corriqueira em me...