terça-feira, 5 de outubro de 2010
Um professor pode usar um jaleco branco?
Essa semana fui acometido por uma imagem no mínimo intrigante: um professor vestido num jaleco branco. Devo admitir que há muito vira uma imagem desse tipo, mas a associava sempre a algo antigo, ultrapassado, que professor ou escola alguma jamais utilizasse mais tal indumentária.
Conversei com alguns colegas de trabalho sobre o acontecido e fui surpreendido por um comentário que me fez questionar meu "pré-conceito". O comentário versava sobre o fato de que, segundo esse colega, todo professor deveria usar essa roupa pois ela impõe respeito diante dos alunos. Achei esse comentário estranho, pois jamais passou pela minha cabeça que um professor dependesse de uma roupa para conseguir respeito entre seus alunos.
Ao refletir sobre o assunto em questão, recordei-me de minhas aulas de sociologia na universidade onde meu estimado professor falava sobre o papel que a indumentária pode exercer sobre as pessoas numa dada sociedade. Citou o exemplo do médico e em seguida do advogado em que ambos, se não usassem as roupas que usam, não iriam surtir o efeito de "diferenciados" dentro da nossa sociedade na nossa época atual e que não obteriam, consequentemente, o respeito almejado por ambas as profissões.
Claro que essa constatação sociológica - se é que podemos chamá-la assim - está carregada de certa razão, pois não apenas os médicos e advogados como também outras profissões atribuem à roupa um papel fundamental que ela deve exercer para se conseguir um reconhecimento do status social. Por isso o padre ou o pastor vestirem-se diferentes das demais pessoas; por isso os artistas famosos ou os juízes também se utilizarem deste mesmo artifício. No entanto me questiono se outras profissões deveriam seguir esse mesmo princípio como é o caso do professor.
Ao aceitarmos conviver em sociedade, pelo menos assim aprendi no meu breve curso de Introdução à Sociologia, somos também obrigados a aceitar determinadas atribuições que o nosso papel social nos coloca. Por isso sermos impelidos em determinadas circunstâncias a agirmos e vestirmo-nos de forma "adequada" para não sofrermos muito com aquilo que o velho Durkheim chama de coerção social. Se bem que, ainda de acordo com o sociólogo, ninguém em sociedade estaria livre de sofrer tal influência já que tal característica é inerente a toda sociedade humana.
Nesse sentido, parece que o uso de determinadas indumentárias ou apetrechos possuíriam lugares e tempos determinados para serem utilizados de forma adequada. Não me sentiria bem, por exemplo, trajando uma sunga de praia em um velório, embora eu pudesse fazê-lo desde que estivesse ciente - ou não! - das consequências que minha atitude causaria não só diretamente a mim como também, de forma indireta, aos meus amigos ou à minha família.
Sempre me questionei a respeito das roupas ditas determinadas para o convívio social em determinados momentos ou lugares. Nunca admiti a ideia de vivermos num país de clima tropical e sermos obrigados a usar calça jeans e uma camisa "fechada" para entrar num prédio público. Questiono-me ainda se tal comportamento não seria fruto de um resquício do nosso "deslumbramento" daquilo que vem de fora do nosso país.
Sem comentar que o uso desse jaleco, assim ouvi ou li em algum lugar, também teria sido um resquício da ditadura militar que infligiu o nosso país nos anos sessenta, numa tentativa, talvez válida, de aumentar a auto-estima do professor naquele período - assim como a utilização, por exemplo, do termo "disciplina" para atribuir às matérias que ensinamos na escola.
O colega que trajava o dito jaleco branco não era tão idoso assim, mas isso não quer dizer que ele seria uma pessoa de espírito envelhecido sobretudo enclausurado numa época que não mais voltará - um saudosista. Talvez queira apenas destacar-se, chamar a atenção para a necessidade de conseguir respeito já que a nossa "opção-condição" social - essa coisa ainda mal explicada que nos leva a sermos professores - infelizmente não nos dá de maneira satisfatória e ampla. Mas ainda insisto em querer acreditar que uma roupa não possui esse poder todo num mundo tão moderno...
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