Pretendo tratar aqui neste breve post a respeito de uma ideia depois de ler um livro bastante conhecido do público leitor e que está de alguma forma compromissado pela busca do conhecimento. O Best seller do historiador Y. N. Harari, Sapiens, uma breve história da humanidade (editora L&PM, ano de 2015 - versão digital). Elogiar essa obra seria um trabalho perdido de minha parte, pois, se o acompanhante deste blogue estiver respeitando uma certa assiduidade, sem sombra de dúvida terá conhecimento desse autor e de suas respectivas obras de sucesso incontestável e que minhas palavras aqui de nada acrescentariam como também tirariam. Resumindo, essa obra dispensa apresentação.
O que me chamou a atenção nesse texto, foi justamente o quanto as ideologias, alicerces de qualquer cultura humana, contagiam nosso modo de lidar com a vida, com os outros, com a natureza, com o universo. As ideias ou as ideologias - e aqui eu tomo ideologia em um sentido vulgar tal qual um conjunto de ideias que constitui o modo de se entender no mundo por parte de qualquer indivíduo - são tão presentes em nossas vidas que chegam ao ponto de nos incapacitar a visão, de nos deixar simplesmente cegos diante da realidade, aliás, realidade essa, diga-se de passagem, que também pode ser questionada, por que, afinal, o que é a realidade se não um punhado de conceitos - ou ideias mesmo! - que podem mudar ao sabor do vento, quer dizer, ao sabor da história ou do próprio sujeito?
O que isto, então, implica em nossa reflexão? Cada ser humano possuiria sua ótica, sua perspectiva a respeito de qualquer coisa, vai depender, claro, do conjunto de ideias que ele iria valer-se para criar essa sua perspectiva de um dado. E talvez isto pudesse explicar a raiz do surgimento do contraditório, melhor, explicaria a origem dos conflitos.
Harari se vale de um conceito, a "dissonância cognitiva", que, segundo ele, é considerada como uma "falha" na nossa consciência, na nossa psique, mas que é também algo de uma relevância incomum, dado ao fato de que, caso corrigíssemos essa "falha", não teríamos a capacidade de criar nossas crenças, nossos valores, enfim, não teríamos a capacidade de originar nossas ideias e consequentemente uma ideologia que funcionaria como um elo entre as relações humanas e assim criaria também uma cultura.
Essa "dissonância cognitiva" descrita por Harari chama atenção para uma outra característica efetiva do ser humano, do indivíduo humano: discordar de alguém e/ou até de si mesmo! Ora, as instituições surgem na tentativa de justamente tentar dirimir essa "dissonância" por entendê-la "maléfica", prejudicial ou danosa ao indivíduo humano por acreditar que ela "quebraria" o indivíduo e assim sua necessária ligação com o coletivo, com a sociedade. Tal discordância, é algo diametralmente oposto ao que pretenderiam as instituições, pois estas, de algum modo, almejariam unir os indivíduos em um único corpo social com um objetivo, na visão das instituições, interessante para as duas partes que seria a manutenção da sobrevivência de ambos já que o indivíduo precisa da sociedade e esta precisa do indivíduo para também manter-se coesa, viva, em uma notória relação de via dupla.
Contudo, essa discordância imanente e vital ao indivíduo pode colocar em risco a vida da sociedade, principalmente se não for combatida pela própria sociedade, e daí surgiria a necessidade de algo que possa, pelo menos, diminuir a intensidade de tal "dissonância", talvez até se valendo de uma persuasão sobre este indivíduo humano: as ideologias, que se originam como um poderoso instrumento de combate - e controle! - da individualidade humana - eis porque o ceticismo soaria como algo libertador já que prima justamente pela negação de ideologias.
As ideias não nascem com a gente, como já nos apontara a filosofia moderna do empirismo. As ideias seriam impostas pela sociedade por sobre o indivíduo. Ao longo de nossas vidas iríamos acumulando ideias e mais ideias a fim de que elas pudessem nos auxiliar na busca por uma identidade própria, por uma suposta autonomia, o que se manifestaria, inclusive, um tanto estranho ou paradoxal, já que poderíamos questionar como algo exterior ao indivíduo humano, criado coletivamente, poderia ajudar na construção de um indivíduo na sua busca por autonomia. De novo, a coisa da "via dupla".
Caberia, então, ao indivíduo, na construção da sua individualidade, filtrar o que lhe é ou seria de interesse - ou não. E é justamente aí onde reinaria o perigo de ideologias impostas de fora para dentro do indivíduo quando estas seriam internalizadas e desse modo passando a determinar como pertencentes ou, equivocadamente, como integrantes desse mesmo indivíduo. Ao serem internalizadas, entendendo-a como parte do espírito, como parte de alguém, e daí surgir aquele que inevitavelmente iria discordar dessa ideia internalizada, alheia e importada, soaria, muitas vezes, como uma ofensa, uma agressão de caráter pessoal, individual.
Por isso que criar conflitos, além de ser algo natural ao ser humano, não passa efetivamente de um trabalho desnecessário, infrutífero, e que oferece uma ilusão de vencedor ou de perdedor, mas que na verdade satisfaz apenas nossos instintos mais primitivos na tentativa frustrada de combater algo que inevitavelmente deveria existir. Claro que me direciono àqueles que exclusivamente almejam "vencer" uma discussão política, por exemplo, com seus argumentos supostamente lógicos, "muito bem elaborados", com o desejo latente de subjugar o outro, de vencer o outro - e aqui corre-se o risco de entrar na esfera da violência, seja ela verbal ou não, para subjugar o adversário de suas ideias. Não passaria de um trabalho em vão.
As ideias não nascem com a gente, como já nos apontara a filosofia moderna do empirismo. As ideias seriam impostas pela sociedade por sobre o indivíduo. Ao longo de nossas vidas iríamos acumulando ideias e mais ideias a fim de que elas pudessem nos auxiliar na busca por uma identidade própria, por uma suposta autonomia, o que se manifestaria, inclusive, um tanto estranho ou paradoxal, já que poderíamos questionar como algo exterior ao indivíduo humano, criado coletivamente, poderia ajudar na construção de um indivíduo na sua busca por autonomia. De novo, a coisa da "via dupla".
Caberia, então, ao indivíduo, na construção da sua individualidade, filtrar o que lhe é ou seria de interesse - ou não. E é justamente aí onde reinaria o perigo de ideologias impostas de fora para dentro do indivíduo quando estas seriam internalizadas e desse modo passando a determinar como pertencentes ou, equivocadamente, como integrantes desse mesmo indivíduo. Ao serem internalizadas, entendendo-a como parte do espírito, como parte de alguém, e daí surgir aquele que inevitavelmente iria discordar dessa ideia internalizada, alheia e importada, soaria, muitas vezes, como uma ofensa, uma agressão de caráter pessoal, individual.
Por isso que criar conflitos, além de ser algo natural ao ser humano, não passa efetivamente de um trabalho desnecessário, infrutífero, e que oferece uma ilusão de vencedor ou de perdedor, mas que na verdade satisfaz apenas nossos instintos mais primitivos na tentativa frustrada de combater algo que inevitavelmente deveria existir. Claro que me direciono àqueles que exclusivamente almejam "vencer" uma discussão política, por exemplo, com seus argumentos supostamente lógicos, "muito bem elaborados", com o desejo latente de subjugar o outro, de vencer o outro - e aqui corre-se o risco de entrar na esfera da violência, seja ela verbal ou não, para subjugar o adversário de suas ideias. Não passaria de um trabalho em vão.
https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Mito_de_S%C3%ADsifo |
Seriam as ideias que norteariam nosso modo de enxergar o mundo. Saber da existência delas, pelo menos, tornaria-nos mais conscientes de nós mesmos e assim evitaríamos desgastes que em muitos casos seriam absolutamente desnecessários. Imagine a discussão entre um palmeirense e um corintiano para tentar convencer qual time é o melhor. Ou um bolsonarista contra um lulista. Não adianta argumentar porque cada um irá se dispor de seu leque de ideias escolhidas de acordo com seu perfil intelectual - que também poderia ser fruto de um determinado ambiente ideológico devidamente preparado. Numa palavra, as discussões ou conflitos ideológicos tratam-se de um mito, o mito de Sísifo, que nos obrigaria a observar essa pedra que sobe e desce e que não nos levaria a lugar algum.