Cioran já nos alertara a respeito
da mazela que as ideologias podem trazer ao ser humano. Louvemos Pirro! A busca
pela verdade, essa herança reforçada pela modernidade, ainda manifesta tal
força nos dias atuais que a humanidade acredita ser absolutamente natural estar
enquadrado em alguma corrente, em algum conjunto ou corolário de ideias que de
algum modo serve para que os seres humanos possam enxergar o mundo ou até mesmo
sua própria vida. Propalam aos quatro ventos que sem um conjunto de ideias
salvadoras, nós não seríamos nada. E essa ideia de salvação não está presente
apenas nas igrejas ou nas religiões. Foi-se esse tempo! O fanatismo conseguiu
ganhar mais espaço. Pulou os muros religiosos. Transbordou os pátios ditos
sagrados chegando a vários lugares, como na política - e principalmente a política! Cuidado com aqueles que
bradam suas verdades inquestionáveis! Esses são os mais perigosos! São capazes
de qualquer coisa para reforçar sua necessidade ou sua vontade de poder. Sim.
Eles almejam o controle através de suas ideias que funcionam mais como amarras,
como grilhões que a todo instante impõem aos seres humanos uma condição da
qual, quando estiverem convencidos, dão a garantia de que alcançarão a
felicidade. O fanático está plenamente convencido disso. Ele se mata ou pode até
matar. Ele é violento, ávido por brigar, por entrar em conflito, por tentar
convencer de que ele está com a verdade e os outros não – atente que tal característica
transbordou da religião para outras esferas. Ele, o fanático, não aceita o
discurso contrário. Ele quer porque quer que o outro o aceite, que o entenda,
que se convença de sua ideia absoluta, infalível e inquestionável. É um dogmático com todas as letras! “Saia daqui você que
não ouve! Você está no caminho errado. Que erre sozinho, isolado, porque parece um pobre miserável; quando isolado, não passa de uma sombra borrada de alguém.
Isolado você não é nada nem ninguém! Nós somos porque acreditamos em uma ideia,
defendemos essa ideia. Vocês, os fracos, os que optaram por fugir da
verdade, estão todos fadados ao recanto mais obscuro do inferno – da
sociedade!”. O convencimento transformou-se em moeda de troca. O ser humano de
sucesso é aquele que consegue convencer e manter um sem número de séquitos. A
mídia em geral transformou-se em uma ferramenta poderosíssima que fortalece e
propaga-se de um modo jamais visto, inimaginável em outras épocas. É muito mais
fácil convencer um fanático, diga-se também, um fã, um seguidor... através dela, da mídia. Discursos e mais discursos de que a mídia
contemporânea tem como foco a democratização do conhecimento ou da informação
soam aos ouvidos. E tal ideia não está de todo errada. Contudo, o que está
subentendido nessa “democratização”, em verdade são as ideias que a mídia quer
que se acredite, que se propague, que se fortaleça, que encontre morada. Ideias
que convençam o pobre espectador, ou ouvinte a
continuar o consumo daquela ideia – e que, diga-se de passagem, se transformou
em um produto lucrativo nos dias em que a dita razão venceu. O fanático, e
aqueles correlatos que tentam se aproximar a tal condição, seduzidos pelas
armas contemporâneas de convencimento, se acotovelam para comprar e assim
consumir ao máximo a ideia da moda! Mas essa ideia da moda não vive
solitariamente. Não é um único produto. A variedade delas são incontáveis, ad infinitum! Vários são seus rótulos.
Têm as ideias antiquadas, modernas, cult,
filosóficas, religiosas... a vitrine não consegue comportá-las por completo.
Cuidemo-nos para que nenhuma delas convença-nos a fazer algo, seja errado ou
não...
quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018
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