quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Do fanatismo


Cioran já nos alertara a respeito da mazela que as ideologias podem trazer ao ser humano. Louvemos Pirro! A busca pela verdade, essa herança reforçada pela modernidade, ainda manifesta tal força nos dias atuais que a humanidade acredita ser absolutamente natural estar enquadrado em alguma corrente, em algum conjunto ou corolário de ideias que de algum modo serve para que os seres humanos possam enxergar o mundo ou até mesmo sua própria vida. Propalam aos quatro ventos que sem um conjunto de ideias salvadoras, nós não seríamos nada. E essa ideia de salvação não está presente apenas nas igrejas ou nas religiões. Foi-se esse tempo! O fanatismo conseguiu ganhar mais espaço. Pulou os muros religiosos. Transbordou os pátios ditos sagrados chegando a vários lugares, como na política - e principalmente a política! Cuidado com aqueles que bradam suas verdades inquestionáveis! Esses são os mais perigosos! São capazes de qualquer coisa para reforçar sua necessidade ou sua vontade de poder. Sim. Eles almejam o controle através de suas ideias que funcionam mais como amarras, como grilhões que a todo instante impõem aos seres humanos uma condição da qual, quando estiverem convencidos, dão a garantia de que alcançarão a felicidade. O fanático está plenamente convencido disso. Ele se mata ou pode até matar. Ele é violento, ávido por brigar, por entrar em conflito, por tentar convencer de que ele está com a verdade e os outros não – atente que tal característica transbordou da religião para outras esferas. Ele, o fanático, não aceita o discurso contrário. Ele quer porque quer que o outro o aceite, que o entenda, que se convença de sua ideia absoluta, infalível e inquestionável. É um dogmático com todas as letras! “Saia daqui você que não ouve! Você está no caminho errado. Que erre sozinho, isolado, porque parece um pobre miserável; quando isolado, não passa de uma sombra borrada de alguém. Isolado você não é nada nem ninguém! Nós somos porque acreditamos em uma ideia, defendemos essa ideia. Vocês, os fracos, os que optaram por fugir da verdade, estão todos fadados ao recanto mais obscuro do inferno – da sociedade!”. O convencimento transformou-se em moeda de troca. O ser humano de sucesso é aquele que consegue convencer e manter um sem número de séquitos. A mídia em geral transformou-se em uma ferramenta poderosíssima que fortalece e propaga-se de um modo jamais visto, inimaginável em outras épocas. É muito mais fácil convencer um fanático, diga-se também, um fã, um seguidor... através dela, da mídia. Discursos e mais discursos de que a mídia contemporânea tem como foco a democratização do conhecimento ou da informação soam aos ouvidos. E tal ideia não está de todo errada. Contudo, o que está subentendido nessa “democratização”, em verdade são as ideias que a mídia quer que se acredite, que se propague, que se fortaleça, que encontre morada. Ideias que convençam o pobre espectador, ou ouvinte a continuar o consumo daquela ideia – e que, diga-se de passagem, se transformou em um produto lucrativo nos dias em que a dita razão venceu. O fanático, e aqueles correlatos que tentam se aproximar a tal condição, seduzidos pelas armas contemporâneas de convencimento, se acotovelam para comprar e assim consumir ao máximo a ideia da moda! Mas essa ideia da moda não vive solitariamente. Não é um único produto. A variedade delas são incontáveis, ad infinitum! Vários são seus rótulos. Têm as ideias antiquadas, modernas, cult, filosóficas, religiosas... a vitrine não consegue comportá-las por completo. Cuidemo-nos para que nenhuma delas convença-nos a fazer algo, seja errado ou não...

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