quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

O mundo é dos mais espertos

Uma garotinha dança ao som de uma música popular do momento aos olhos emocionados, quase lacrimejantes e orgulhosos da mãe que segura ávida seu celular pago com 12 prestações - mesmo atrasadas - sintetiza uma imagem bizarra da dita era do conhecimento. A música que é ouvida induz e reduz o corpo a um mero objeto a fim de demonstrar o controle de sedução ou ainda, na melhor das hipóteses, um controle corporal até então jamais visto para uma criancinha de 7 anos. A mãe filma ansiosa por colocar o vídeo na internet, nas redes sociais, e mostrar o quão é "engraçadinho" vê-la "rebolar até o chão" em um movimento de sensualidade incomparável para as meninas da mesma  idade. Ela, a mãe, não está preocupada se a filhinha vai bem na escola. Está preocupada se sua filhinha aprendeu os passos corretamente para que ela possa desfilar mostrando ao público sua destreza corporal. O grande sucesso do carnaval que é a música que apela diretamente aos movimentos corporais - e que o compositor se deu ao farto trabalho de colocar algumas cinco ou seis palavras que façam sentido e que não sinalizem, em hipótese alguma, à inteligência ou ao menos à formação intelectual daquele que irá ouvi-la - é tocada de tal forma que até mesmo aquele que não suporta o ruído é obrigado a decorá-la. É quase como um estupro aos ouvidos do infeliz que não quer e nem almeja fazer parte dessa destoante e no mínimo constrangedora cena.
Os donos da mídia, os homens que controlam o Estado, as grandes corporações industriais, enfim, aqueles que detêm o controle das sociedades regozijam-se em seus iates e flats pouco se importando com a emoção da mãe que filmou sua filhinha com um celular parcelado para 12 prestações - atrasadas - tomando seus whiskies envelhecidos em que um simples gole já pagaria, pelo menos, 10 aparelhos celulares do mesmo da endividada mãe. Mas eles têm um interesse objetivo: o controle. Isso é fato. É muito mais cômodo, mais fácil inclusive, controlar aqueles que aceitam de bom grado esse cerceamento, essa limitação ou ainda  essa despreocupação com a exposição no mínimo desnecessária de uma criança qualquer. Mas isso evidencia um controle? Talvez alguém que sofresse um processo de formação efetiva em uma escola não tivesse desenvolvido uma ideia dessas. Talvez ela se conscientizasse de que não ganharia efetivamente nada ao expor sua filhinha numa rede social de vídeos - ainda que, em função das muitas visualizações, ganhasse seus trocados, mas o certo é que os donos da mídia, sem sombra de dúvida, estariam ganhando muito mais. Talvez ela nem fosse tão descuidada ao colocar seu aparelho celular parcelado para 12 prestações e decidisse pagar o valor mínimo no cartão de crédito pagando juros escorchantes de quase 400% ao mês para manter o padrão de vida esnobe e ostentoso dos homens que controlam as grandes corporações bancárias. Por isso que nos dias de hoje é extremamente rentável manter as massas estultificadas. A burrice dá lucros e faz valer aquele velho ditado: "o mundo é dos mais espertos!".

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